Ela desceu as escadas com sabedoria e a classe que sempre lhe foi peculiar. Ela estava lá, mas poderia não estar, poderia inventar uma desculpa e desaparecer para onde não fosse encontrada. Montanhas rochosas? Quem sabe um dia ela crie a coragem necessária para sumir de vez. O mundo é grande demais para as pessoas pequenas e pequeno demais para ela e toda sua magnitude.
Há alguma esperança contida no singelo ato de se fazer presente, mesmo em uma festa enfadonha com pessoas tacanhas e gente medonha. Há, sempre, vestígios de uma insatisfação qualquer quando se ultrapassam os limites. Ela começou tarde demais a pensar na vida, suas consequências e resultados inquietantes, mas antes tarde do que nunca. A vida é assim, dura, mas justa.
Nos dias em que a fome aperta nada melhor do que grandes doses de conhecimento e nos dias em que o apetite some, nada melhor do que bons bocados de cultura inútil. Ela nada mais era do que uma mulher, como tantas outras, perdida a espera de um mapa ou um aparelho de GPS. Ela nunca pediu informações na banca de jornal ou esmolou fragmentos de incompreensão e pesar.
Diante dos fatos os atos não se justificam de forma tola, muito menos de forma alguma. A atitude tem que estar lá, presente, nunca ausente. Ela validou três dúzias de pensamentos, viu o tempo perdido e não se fez de rogada. Já que o penar é certo, que seja da forma menos humilhante possível, e foi. Casou-se às duas da tarde com o namoradinho do colegial na igreja mais pomposa da cidade, jogou fora os sonhos, abdicou de ser ela mesma e tornou-se tão somente a esposa de um bem sucedido qualquer.
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