terça-feira, outubro 28, 2014

Um loft para dois

um loft para dois

Pé direito o maior possível, um pouco mais de três metros e achei que estava bom. Encantamo-nos por ele assim que colocamos os olhos naquele piso de cimento queimado. Já havíamos comprado uma mesa linda de oito lugares, o arquiteto tinha o projeto certo e aquele loft era o lugar ideal para todos os nossos sonhos. Parecia pequeno, mas com os detalhes certos, fizemos dele o nosso lar.

Um ano após a compra os problemas começaram a aparecer. Comecei a trabalhar demais e a chegar tarde em casa. Isabel demonstrou não estar contente com a situação e logo começou a me cobrar mais atenção e os pequenos detalhes do dia a dia tornaram-se grandes fontes de atrito entre nós. As roupas que não se lavavam sozinhas, a despensa que não se abastecia automaticamente, o café que precisava de alguém para prepara-lo. A convivência foi se tornando insustentável e por mais que eu tentasse não conseguia demove-la da ideia de me atingir com sua indiferença.

Mudei os horários, reorganizei a agenda e recomeçamos. Isabel engravidou em maio e a noticia foi a melhor que pudemos receber. Nosso casamento já estava bem e o nascimento de nosso tão sonhado filho era a confirmação disso.

Isabel começou a trabalhar em casa e mudamos a estrutura do loft para que ela tivesse espaço e condições de receber alguns clientes e fazer seus projetos com mais conforto. A contragosto fui enviado para o Rio de Janeiro por dois meses, voltava todos os finais de semana, mas a distancia e a ausência começaram a incomoda-la. Acabei, mais uma vez, me sentindo culpado e quase abandonei tudo, mas eu sabia que aquele momento não deveria desistir.

Assinamos os papeis do divorcio um ano após o nascimento de Maria Antônia, nossa tão adorada filha. Isabel não esboçou nenhum arrependimento, foi fria como uma pedra de gelo. Eu estava lá, impotente, apenas cumprindo o protocolo, seguindo as regras. Ela ficou com a guarda de nossa filha, com o loft e com alguns quadros que me eram caros. Levei o cachorro e só.

Não tento mais compreender os motivos da nossa separação, conversamos diariamente e esse assunto não entra na pauta. Falamos sobre a educação de Maria Antônia, sobre os rumos do país, sobre os meus projetos, sobre os projetos dela e prometemos que um dia vamos sair para jantar. Geralmente nunca tenho tempo, estou viajando constantemente e ela por sua vez também anda muito atarefada com o novo atelier.

Estamos bem, felizes e conscientes de que nem sempre as coisas são como dizem os livros. A vida real, o relacionamento e tudo o que envolve sentimento, deve ser encarado sem medo.

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