segunda-feira, julho 01, 2013

Onde o calo aperta

onde o calo aperta

Sabe golpe de misericórdia? Ultimo tiro? Foi me buscar em casa o facínora com aquele gol prata 2005, um perfume qualquer, mas bom, e uma cara mal lavada de quem tinha recém saído da cama. Seguimos para um restaurante de quinta, mas que servia massas e um vinho razoável, nada de garrafões com suco de uva e açúcar. Ele comeu apressado falando onomatopéias sem sentido e eu separei as cebolas no canto direto do prato e os legumes no canto esquerdo, desde pequena faço assim.

Acabamos o vinho, ele pagou a conta, entramos no carro e voltamos para casa, a minha. Ele não abriu a porta, nem antes e nem agora, sai, me despedi, entrei em casa e finalmente tirei o maldito sapato que me apertava os dedos. Sorri.

A ultima vez, quando premeditamos o fim, já sabemos aquilo que queremos, não é mais agradável ou menos sofrível do que quando as coisas terminam naturalmente, mas é mais reconfortante. Reconfortante no sentido que você sente o mínimo remorso possível, não tem culpas homéricas e nem duvidas a respeito do que esta fazendo, porque você já sabe muito bem o roteiro e segue fielmente o script traçado pela mente. O corpo vai mais relaxado, a tensão não existe, você ignora medos, o ambiente externo e qualquer tipo de subterfúgio que possa ser usado para lhe fazer mudar de idéia.

Acontece o fim muito tempo antes do fim, propriamente dito acontecer. Você termina com tudo sem dó e com calma, todos os motivos estão lá, o acusado não tem como se defender e quando tenta, todos os jurados já têm o discurso decorado para condená-lo. Sabe facada nas costas? Tiro no peito? É parecido, só que mais letal.

O que dói mesmo é o sapato, a merda do lindo sapato um número menor que o seu, que você compra porque a ocasião merece uma coisa especial. Esse sapato, de algumas centenas de reais, é que às vezes te faz soltar uma lagrima de canto de olho, não pelo aperto, mas pela eminência de você precisar devolvê-lo a loja, doar para uma amiga nunca. O sapato até pode ficar ali, guardado a espera de outra ocasião especial, mas o que esta feito não tem volta.

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