quinta-feira, junho 23, 2011

Descanse em paz

descanse em paz

Por um instante ele ergueu sua taça contemplando nela o restante de um barolo safrado. O vinho em si não tinha a mínima importância, nem mesmo o fato daquele ser um exemplar caro e raro de um belo vinho. O momento, este sim, era o mais importante.

Uma lagrima correu por seu rosto e quanto mais ele se lembrava dos mágicos dias em que teve a felicidade a seu lado, mais lágrimas teimavam em rolar. Ele fechou os olhos e deixou a mente viajar, retornando aos lugares e aos locais onde tudo aconteceu e talvez não acontecesse mais.

Bons momentos, grandes passagens, belas memórias de um tempo recente, que ainda ecoavam em sua mente.

Ele podia se lembrar dos sorrisos, das caminhadas, das conversas, dos abraços e tudo o mais. Ele podia, mesmo que não quisesse ou não tivesse mais porque, ainda sentir o calor da primeira vez e todas as sensações que sempre estiverem presentes em cada encontro.

A taça agora vazia fazia companhia à garrafa, também vazia, e ambas sob a mesa o lembravam que todas as coisas boas da vida um dia chegam ao fim. A própria vida não é eterna, até ela em algum momento chega ao fim ou se transforma.

Sem saber por que e nem compreender os motivos, tudo acabou e as lembranças, as que restaram e vão ficar em sua memória, apenas o faziam lamentar por não ter tido a chance de dizer uma palavra sequer. Ele também não ouviu nenhuma palavra, apenas ficou com seus pensamentos.

Interessante como a roda viva do destino escolhe os momentos para fazer com que as coisas aconteçam. Ela simplesmente decide que é o fim e coloca um ponto final no texto encerrando aquele capitulo e não dando aos personagens, muito menos aos leitores, a oportunidade de saber o que e o porquê as coisas aconteceram.

Talvez seja uma forma de se evitar maiores sofrimentos e desencontros desnecessários. Ou quem sabe é uma forma de se cortar um mal que se prenuncia, mesmo sem a sapiência dos protagonistas, pela raiz. Quem sabe e quem vai querer compreender.

Às vezes não há explicação, as coisas apenas têm de acontecer.

É assim. Aconteceu com ele e neste momento deve estar acontecendo com milhares ao seu redor. Lamentar é desnecessário e de nada vai adiantar ou mudar o curso da história, ele sabe disso muito bem.

Portanto, após quebrar a garrafa contra a parede e proferir alguns impropérios ele apenas se deixou cair da sacada do quinto andar, abreviando assim um penar sem fim.

“E foram tantos momentos bons, que é difícil acreditar que todos eles tenham sido em vão...”

Descanse em paz!

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